Esperar por alguém ou alguma coisa que nos complete, costuma ser uma das maiores fontes de frustração. Não há permanência da completude dentro ou fora de nós. Somos compostos por dois lados dinamizados pela busca de uma unidade impossível. No entanto, a cultura social que nos rege só aceita e valoriza um lado, quando na verdade o que nos amplia e faz crescer é também a circulação entre nossos contrários.
A ideia de lidarmos apenas com um de nossos lados, ou seja, a parte que é socialmente “certa”, “boa”, “bonita”, “correta”… enfatiza dentro de nós o sentimento de incompetência. Somos portanto constituídos por uma parte aceita e uma parte rejeitada pela sociedade. O perigo está em nos rendermos a isso e nos forçarmos a acreditar que podemos nos equilibrar em apenas um dos nossos lados. Certamente, em algum momento iremos nos desequilibrar e até mesmo adoecer.
Quem sabe a saúde esteja na busca por um encontro entre nossos opostos e não na certeza de que precisamos nos sentir completos?
Acredito que a consciência da incompletude assim como a dinâmica que é produzida pela proximidade entre opostos são fontes de energia que nos instigam a pesquisas e investigações capazes de produzir descobertas. Não há arte sem opostos. O fazer e contemplar a arte ampliam a inteligência já que abrem espaço para a opinião e a crítica. Levam os indivíduos, sejam crianças ou adultos à revisão de valores que muitas vezes parecem já estabelecidos, cristalizados dentro da sociedade.
A arte nos revitaliza e reintegra, quando faz da incompletude, da falta e do vazio seus argumentos para o exercício de sua expressão.
A verdade é que não há diálogo sem conflito, portanto também não há arte sem o conflito e o contraste que é produzido pelos opostos. São eles que por vezes levam o autores a processos mais conturbados, mais dolorosos e até desestruturantes. Processos que quando são atravessados por reflexões, trazem mais consciência e tornam menos sofridas as ações artísticas.
A música, a poesia, o cinema, a literatura, a dança, o teatro, as artes visuais ou qualquer outra manifestação artística tem o poder de construir, questionar e modificar suas próprias estéticas justamente porque têm a colaboração dos opostos e até mesmo dos conflitos.
Se fossemos completos, não precisaríamos ser sociais, ou seja, não precisaríamos do outro. Provavelmente também não seríamos emocionais e sensíveis. Tudo estaria já dito e, a arte, essa linguagem do indizível, não precisaria existir, muito menos estaria tentando a completude.