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O ensino médio SEM ARTE

Não me espanta essa medida governamental que torna a arte apenas opcional no ensino médio. Junto com ela também a filosofia, a educação física e a sociologia que, além de femininas (como vulgarmente são chamadas as sensibilidades), para os governantes elas não contribuem com conteúdo que prepare os nossos jovens para o mercado de trabalho.

Não me espanta porque essa é apenas uma medida que oficializa a pouca valia que, faz tempo, já é dada para essas matérias, apesar de serem elas responsáveis pela formação de indivíduos pensantes. Esses indivíduos, no caso, seriam os tais “sujeitos” de quem fala a filosofia: Seres que evocam experiências únicas.

Ironicamente, são justamente essas “experiências únicas” que nós da equipe do projeto Eu Sou temos assistido transformar tantos jovens que a princípio eram apenas movidos pelo desejo de ter (uma forma para tentarem sair da invisibilidade) e com a arte se tornaram seres pensantes que puderam descobrir suas particularidades, seus desejos e consequentemente passaram a fazer escolhas em suas vidas.

Do bloco dos excluídos, como os jovens que atendemos, talvez a arte e a filosofia tenham especialmente a subjetividade como uma espécie de centro de suas existências. Elas nasceram a partir de sujeitos, os tais pensantes.

Segundo René Descartes, como extensão da subjetividade, temos o objeto, a matéria.

Me parece que a extensão que querem para os nossos jovens é tão somente o mercado de trabalho. Mas que trabalho? Um emprego talvez.

Quanto à sensibilidade que nos faz contemplar ou produzir arte e que também nos faz refletir, é importante sabermos que é ela que muitas vezes aponta possibilidades e caminhos para esses mesmos jovens fazerem escolhas dentro do mercado de trabalho.

Não são os resultados conquistados, a meta, o objeto em si, que os tornam cidadãos.

Não são os resultados que os tornam tolerantes.

Não são os resultados que os civilizam. São os processos, porque são eles que nos fazem sentir, pensar, escolher e pertencer socialmente.

“A arte me mostrou mais caminhos…” Lucas – 16 anos

“Depois daqui eu acho que posso muitas coisas” Gabriel – 17 anos

“Sempre achei que arte era para aprender a fazer perfeito” Marcella – 15nos

“Sabe, hoje eu tenho até vergonha, eu ia ser outra coisa…” Milena 15 anos

Esses depoimentos são de jovens do projeto social Eu Sou que têm a idade de muitos que cursam o segundo grau nas escolas.

Com as experiências artísticas os jovens do projeto passam a observar mais o mundo, refletem e melhoram o desempenho escolar, ganham consistência, amadurecem.

Mas não só os jovens do projeto. Uma boa educação artística para todos produz mudanças tão significativas, que torna muito preocupante pensar que só a cognição formal atribuída à matemática, português e inglês prepara nossos jovens para o mercado de trabalho.

E a cognição artística, por que é desconsiderada?

Por que pensar que a arte com seu poder de fazer refletir só se justificaria no ensino fundamental e poderia deixar de existir no segundo grau? Afinal, esse é o período das escolhas, sendo que elas só se fazem realmente a partir das reflexões.

Além da entrada mais consciente no mercado de trabalho, a arte humaniza nossos jovens para não só perceberem a si mesmos, mas também perceberem o outro.

Nesse período da vida, todos os nossos jovens se aproximam mais facilmente da criminalidade. Sobre isso precisamos pensar que a violência não é só revolta, muitas vezes é anestesia da própria dor e a dor do outro. É desprezo pelas consequências. A arte é um bom remédio, ela sensibiliza.

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