De todos os lados e a todo momento milhares de informações nos capturam. Muitas vezes somos atraídos pela ilusão de que com elas conquistamos conhecimento.
A verdade é que sem nos darmos conta vamos sendo aprisionados por linhas de informação que nos invadem indiscriminadamente, muitas vezes nos levando à paralisação. Vale lembrar no entanto, que entre essas linhas há sempre espaços vazios, espaços que podem ser representados por áreas de luz ou de sombra. Acredito justamente nesses espaços, nessas lacunas, como únicas áreas possíveis de desenvolvimento da subjetividade. É ela que, tão bem veiculada pela arte, instiga e promove questões e faz das lacunas, importantes e constantes espaços para se atuar reflexivamente.
Se por um lado as informações costumam ser carregadas de certezas e precisões, por outro lado, são elas que produzem os vazios de que falo, aqueles produzidos pelas entrelinhas das certezas.
Vale à pena observar como eles, os vazios, se multiplicam à partir das inevitáveis falhas da precisão. Eles são mesmo contrários ao preciso, são contrapontos das certezas. Não acolhem objetividades, mas por outro lado, não têm limite ou controle sobre o desenvolvimento da subjetividade. Há dentro deles, uma potência desmedida que é promovida justamente pelo “não controle” que esses espaços refletem, atraindo naturalmente para dentro deles, a possibilidade do descomprometimento e da dúvida.
Quando uma ação artística se apropria dos vazios não há na verdade necessidade muito menos pretensão de preenchê-los, como em geral desejam as ações objetivas. A arte apenas se utiliza deles como espaços de acolhimento; uma espécie de terreno para o plantio de ideias.
A ilusão de que preenchendo vazios afasta-se o medo da incompletude e do descontrole, fortalece a ideia de que podemos ocupá-los com o consumo de coisas, objetos, comidas, drogas, pessoas, sexo…
Ocupar esses espaços com a arte, a reflexão ou o livre pensar, é a única saída para que essas importantes ausências não se transformem em tolos reservatórios para a contenção de “coisas” ou em áreas de sofrimento e angústia.
Não sei se foi ela, a angustia ou se foram as metas a que me submeti para alcançar precisão ou ainda se foi o sofrimento com as minhas dúvidas que um dia me lançaram a ideia de que os vazios poderiam ser meus aliados. A verdade é que pensar sobre eles me levou a utilizá-los tanto na minha arte quanto na minha vida.
O livro “Vertigens do vazio” que escrevi em 2011 é o registro dessa experiência.