Acredito que no processo evolutivo dos indivíduos só há desenvolvimento a partir da constante alternância entre a ordem e a desordem, como aliás sempre promovem os opostos.
Durante a ordem, ou seja, no estado de contenção, criam-se contornos, limites e com eles, o individuo se apropria de si mesmo e se adequa socialmente. É também durante o estado de contenção que o individuo acomoda as experiências e informações colhidas na desordem, tornando-as conhecimento com possível aplicabilidade na vida.
Durante o estado de libertação promovido pela desordem o individuo atravessa a linha de contorno e se lança no imprevisível, no descontrole, e passa a atuar num espaço sem fronteiras.
A desordem traz o novo, o alimento modificado para o estado de contenção produzido pela ordem. É portanto, além das fronteiras, na relação com a desordem, que o individuo faz contato com o novo e dele se nutre.
Acredito que o grande agente promotor de uma ação transgressora seja a necessidade de alimento, por vezes, afetivo, identificador, físico, social ou sexual, que podem ser nomeadas como desejos. Em geral, o acesso a muitos desejos, ocorre a partir da transposição da linha que contorna e contém os indivíduos, e esta transposição pode se dar através de símbolos inconscientes e sublimações. Por exemplo, através dos sonhos, fronteiras são atravessadas sem culpa, já que os símbolos utilizados não passam pela consciência de seus significados.
Através da arte, símbolos se constroem promovendo a sublimação do inacessível. Também na arte, quando o símbolo é tratado de forma consciente, tende a construir o que podemos nomear como conceito. Pessoalmente, defino conceito na arte como um conjunto simbólico que estrutura uma obra ou intenção artística muitas vezes constituída pela transgressão.
Há, portanto, um contorno, um limite relacional que referencia o homem em si mesmo e no mundo, assim como também há um universo de alimento infinito no caos que o modifica.
É a partir dessa relação entre o finito e o infinito que o homem se desenvolve.