Parece mesmo caracterizar o ser humano a constante busca da unidade. Mas, se buscamos unidade é porque definitivamente não somos um. E não somos mesmo. Somos a diversidade, somos o constante convívio entre opostos e são eles que nos alimentam e instigam ao crescimento.
Há muitos anos, nos períodos de férias escolares, promovo no meu atelier um contato intensivo entre crianças e a arte. Ultimamente venho pensando que é melhor que seja mesmo intensivo esse contato, porque infelizmente durante o período escolar, as crianças estão cada vez mais distantes do criativo e consequentemente pouco ou nada exercitam o espontâneo, o imaginário, a descoberta de soluções próprias, o jeito pessoal e a confirmação de suas potências.
As escolas perderam o contato com a arte; as crianças consequentemente também.
Parece que o tempo e o espaço que um dia pertenceram à arte estão hoje ocupados pelo que mais é valorizado pela sociedade contemporânea, a objetividade.
Não tenho dúvidas, a objetividade é um importante ingrediente no desenvolvimento dos indivíduos, mas, vale a pergunta:
O que pode acontecer a um indivíduo sem o convívio com o que se opõe à objetividade, ou seja: o que é crescer e viver sem a subjetividade?
Me preocupa. Objetividade virou receita de conquista.
Conquista de que? De coisas?
E a conquista de si mesmo, que parece tão alinhada com as práticas subjetivas, em que lugar na vida de nossas crianças ela está sendo praticada?
Depende dos pais e das escolas, mas deveria ser o ano todo e para todos.
Pelo menos nas férias, vale viver um intensivo contato com o criativo, com o autoconhecimento e com o prazer de fazer diferente. Infelizmente para poucos.