Percebe-se que os disléxicos desenvolvem mais facilmente o pensamento e a aprendizagem com o reforço de imagens que correspondem a palavras, enquanto os “léxicos” alternam a apreensão dos códigos de leitura utilizando ora a construção visual e fonética, ora as imagens representativas das palavras. Dessa maneira, portanto, como quase todas as palavras desta frase aqui registrada em itálico são repletas de abstração, tornam-se “buracos” de compreensão os disléxicos. Dessa forma, esses “buracos” na compreensão tornam-se espaços para a desconcentração dentro do ensino formal.
Os disléxicos sofrem uma defasagem no vocabulário justamente pela falta de imagens que dariam representação a muitas palavras.
Outro aspecto bastante sério é o sofrimento social (na verdade comum a todo indivíduo que apresente alguma diferença), que o faz se sentir preterido dentro da maioria dos grupos.
Quero ressaltar que o ambiente arte-educacional tem características extremamente facilitadoras para o trabalho com alunos que apresentam esses sintomas:
– As artes plásticas utilizam as imagens como matéria prima e os disléxicos se utilizam de imagens para darem sentido e significado às palavras.
– O diverso é uma importante fonte multiplicadora e ampliadora de linguagens, portanto um disléxico tem muito a contribuir com suas diferenças.
– Não há testes ou comparações entre indivíduos, ao contrário a arte e seus envolvidos mais facilmente os absorve democraticamente.
Talvez por esse motivo, vamos encontrar tantos disléxicos com talento ou notável afinidade com as artes.
As artes plásticas, assim como a contação de histórias, as mímicas, jogos dramáticos… podem ser, todos, linguagens complementares do processo cognitivo formal, inclusive interagindo entre elas.
As propostas artísticas devem estimular e valorizar a descoberta de símbolos próprios, porque são eles que irão colaborar para o desenvolvimento de indivíduos com este tipo de transtorno. São os códigos próprios que facilitam a relação do aluno com suas lacunas.
Sugiro que durante a contação de uma estória, seja para criança, adolescente ou adulto, o gestual do contador seja fortemente valorizado como recurso enriquecedor do processo de compreensão e aquisição; funciona como um complemento da palavra. E ainda, para facilitar a construção de imagens das palavras-lacuna (palavras sem significação), essa mesma estória pode ser depois simbolizada nas artes plásticas.