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Ansiedade. A arte pode colaborar!

Talvez esse seja o sintoma que melhor reflita a vida contemporânea.

Vive-se hoje a cultura do “vir a ser”. Há nessa cultura, uma intensa relação com o tempo.

Despreza-se o passado enquanto o presente é visto apenas como terreno para o plantio de conquistas que só serão colhidas num futuro idealizado e mágico. Nesse “futuro”, todas as soluções têm lugar sem esforço e os espaços são preenchidos só pelo prazer. Já no presente, nada do que acontece parece ter o devido valor para ser verdadeiramente saboreado. Retira-se do presente a energia, e com ela faz-se investimento futuro.

Vale observar como é paradoxal esse comportamento. Ao mesmo tempo em que descarta sentimentos, desejos e atitudes, esse mesmo comportamento deposita no vir a ser os anseios pelo definitivo, o inteiro, o solucionado.

Nossas crianças vivem esse paradoxo, desejando, assim como seus pais, uma “coisa” que eles não têm agora. Na verdade, dela, alguns têm apenas o desejo de conquista, e esse, depois de alcançado, inevitavelmente terá vida curta para dar lugar a uma nova “coisa que está por vir”.

Sobre esses “futuros desejados”, existem alguns que parecem mais longos, mais distantes, outros nem tanto; podem ser para amanhã mesmo. Existem também os que eu passei a chamar de “fast futures”, porque às vezes, de tão rápidos parecem pertencer ao presente.

Frente a esse panorama contemporâneo, difícil se viver de outra maneira que não seja ansiosa. Preocupante pensar que ao tentar eliminar o presente como espaço para se viver os processos de vida, elimina-se o contato dos indivíduos com eles mesmos, com o outro e com a vida. Em seu lugar passa a existir apenas a ânsia por algo que preencha os vazios que naturalmente sempre constituíram o homem.

Quando o homem se distancia do impalpável, tão bem representado pela sensibilidade, criação e arte, passa então a utilizar a matéria para tentar preencher seus vazios, gerando assim um processo inevitavelmente ansioso.

Crianças ansiosas, quando passam a conviver com a arte, retomam gradativamente um ritmo capaz de restaurar o contato com elas mesmas e com o momento presente. Descobrem o prazer nos processos e percebem que os resultados que projetamos para o futuro são registros de um processo.

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