A arte contemporânea tem trazido uma boa colaboração para a revisão de conceitos que tendem a cristalizar olhares e massificar opiniões. Ela propõe a desconstrução de símbolos e significados pré-constituídos, enquanto busca novos códigos de linguagem. Re-significa objetos, imagens e palavras, procurando levar o espectador ou participante a repensar valores que se estabelecem sem reflexão.
Parece ser a necessidade de se manterem integrados socialmente, que distancia os indivíduos das práticas que priorizariam a individualidade. Ações que valorizam o sujeito e sua diversidade, como o fazem a filosofia e a arte, precisam estar mais próximas de nossas crianças. Sem as reflexões provocadas pelo livre pensar e o livre criar, tornamo-nos todos meros produtores e consumidores do previsível.
A arte, quando relacionada ao processo educacional, traz uma importante questão e que é de certa maneira de ordem prática:
Como pais e profissionais, contemplam o produto ou o processo criativo de suas crianças? Afinal, esses pais pertencem a essa sociedade de consumo e por estarem nela inseridos, carregam o vicio de olhar a criatividade e a arte, com os olhos da expectativa e de critérios atrelados à referências e padrões estabelecidos. Há um vocabulário comum a todos: o vocabulário social que prioriza o consumo e a obviedade.
Talvez por isso seja tão comum escutarmos:
– A arte só me interessa se for bela, decorativa e puder atender aos meus critérios de compreensão.
Essa espécie de premissa instalada leva o indivíduo a se manter sintonizado apenas com o que é cada vez mais praticado na vida, a superficialidade dos objetos. Uma superficialidade que pode transformá-lo em presa fácil de um olhar estereotipado, já que afasta o indivíduo da oportunidade de sentir e de inspirar a vida com intensidade.
“O que é INSPIRAÇÃO senão aquilo que BÓIA no inconsciente.
É preciso RESPIRAR.
E com o dedilhar dos DEDOS, o sapatear dos PÉS,
A VOZ emotiva ou as MÃOS no barro; retirá-la imediatamente.
Verde, IMATURA, imaculada, quase INGÊNUA ela toma forma.
E da inspiração cria-se algo novo, ou reformula-se de um jeito
ÙNICO.
Modifica-se ao SABOR daquilo que bóia, quando ainda não tem NOME,
Como um panfleto apócrifo…”
Alexandra Garnier