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Entrevista com Helio Rodrigues

Recorte de entrevista concedida por Helio Rodrigues – O Estado de São Paulo – 2014

O que se pode observar na arte produzida pelas crianças?

Antes de tudo, precisamos separar o mundo concreto, dentro do qual mais atuamos, do imaginário que em geral é muito pouco permitido.

Quando um adulto passeia pelo imaginário infantil com a cabeça ocupada pela lógica, fica também ocupado pela expectativa de um determinado resultado. Nessas condições esse adulto perde a oportunidade de conectar-se com a própria liberdade, com o prazer do espontâneo. Além disso, pode desenvolver um afastamento entre ele e a criança e até, dependendo da intensidade da relação, promover um afastamento entre a criança e a arte.

É bom estimularmos as crianças a explicarem suas criações?

Histórias, assim como títulos e nomes, comumente cobrados por pais e professores, costumam promover conforto apenas aos adultos. Parecem reduzir neles a angustia do desconhecido, do secreto e que na verdade é alimento da arte.

Provavelmente, para sobreviver e pertencer, muitos adultos buscam tornar concreto tudo que se apresenta impalpável. Se afastam das subjetividades mesmo sendo elas alimento do sujeito e condição para se fazer e contemplar a arte. É com a subjetividade que nos constituímos sujeitos e não nos tornarmos meras repetições do mesmo.

O que se pode considerar bonito e feio na arte infantil?

Critérios estéticos determinam beleza, mas sofrem constantes mudanças em seu percurso seja entre culturas ou até mesmo de pessoa a pessoa dentro de uma mesma cultura.

A estética sempre traz o sabor da impermanência ou não seria ela constituída pelas mudanças, pela diversidade de opiniões, de olhares e escutas.

A riqueza dos significados por detrás de uma ação artística infantil promove um respeito, seja pelo processo ou pelo produto que assistimos.
Quanto mais estreitamos a nossa relação com a arte, seja adulta ou infantil, mais ampliamos os nossos conceitos de beleza.

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