Ao longo do tempo em que venho lidando com o meu processo criativo e o de crianças e adultos, assisto com muita preocupação o aumento da distância entre as pessoas e seus verdadeiros desejos, escolhas e relações. Crianças pobres, mantidas na periferia social e crianças economicamente inseridas nos planos de consumo, afastam-se igualmente de si mesmas, à procura de “coisas” que “prometem” acesso à felicidade e à inserção social.
Privar-se do prazer, mesmo que fugaz, das “coisas” oferecidas pelo capitalismo, parece significar frustração garantida para a maioria das pessoas.
Nas classes privilegiadas, adultos defendem seus filhos da experiência dolorosa de não serem atendidos em seus desejos de consumo, como se a frustração não pudesse ser também enriquecedora para seus pequenos e como se facilitar os desejos dos filhos, fosse sempre uma prova de amor. Já entre os muito pobres que vivem nas grandes cidades, é comum o quase ou total abandono das crianças à própria sorte. Nessa condição, crianças e adultos, são sobreviventes de uma batalha vencida. Na prática, necessidades básicas se misturam às necessidade de conquista de algum “prazer” em suas vidas e assim, como na verdade acontece em todas as classes sociais, acabam transferidas para símbolos de conquista depositados em objetos (celulares, adornos grifes…) e comportamentos (moda, vocabulário e música específicos).
Que papel pode ocupar a educação frente a esse mundo de “coisas” repletas de promessas que não serão cumpridas?
A minha opinião, é de que a educação, quando sustentada pelos braços da arte e da cultura, pode significar o mais forte contraponto a tudo isso. A arte e a cultura, quando amplificadas, são capazes de incentivar a revisão desse condicionamento humano que tem priorizado o objeto, distanciando o sujeito dele mesmo, dentro de uma sociedade que ironicamente é formada por sujeitos. Sem o contraponto da subjetividade (onde se inclui a opinião de cada sujeito) tão especialmente oferecida pela arte, pela filosofia e a cultura, a nossa sociedade sucumbirá afogada em objetos.
Se além da família, a escola é a sede da educação, porque ela anda tão distante desses três pilares da subjetividade: filosofia, cultura e arte?