Há poucos meses visitei uma amiga, professora de uma universidade no Rio, para pedir ajuda na divulgação do meu curso de formação de arte-educadores e acabamos travando a seguinte conversa:
– Helio! Não é possível… Você ainda acredita em arte-educação?
– É…, realmente é triste pensar que nossas crianças estão vivendo sem ela, mesmo sem aquele tão pouco que já foi feito em nome dela.
– Olha… eu às vezes até me esqueço que sou formada em educação artística. Impressionante… Me explica então de onde você tira esse fôlego “quixotesco” para continuar investindo, inclusive num curso de formação de um assunto que parece já ter ido pro ralo?!
– Sabe que não penso assim? Não acho que foi pro ralo não. Vejo a arte-educação abandonada sim, deixada de lado e por vezes sendo supostamente aplicada em algumas instituições, mas na verdade muito do que se faz com o nome dela está bem distante do que podemos chamar de arte-educação. Ao mesmo tempo, tenho assistido a tantos pais e educadores reclamarem de seus filhos e atendidos. Me falam de insatisfação, desatenção, violência, ausência, baixa-estima e por aí vai…
– Mas isso Helio, tem a ver com os excessos de uma classe privilegiada! Bem típico.
– Não, não…O discurso muda de forma dependendo do meio, mas o conteúdo é o mesmo tanto nos projetos sociais que atuo quanto no trabalho que desenvolvo com crianças de classe média. Antes de darmos inicio aos trabalhos, essas são queixas recorrentes, depois muita coisa muda como faz a arte.
– Sim…mas você acha que vai conseguir convencer esses pais e educadores que o que falta pros filhos e alunos deles é a arte? Que as crianças deles são desatentas, violentas ou ausentes porque não têm arte?
– Os que têm a oportunidade de passar pela experiência da arte se convencem sozinhos. É claro que alguns não enxergam… Sempre que posso, tenho espaço, tento levá-los a refletir sobre isso, mas é claro que tem também os que não querem enxergar. Aí amiga… fazer o que? Continuar trabalhando.