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A arte e seus muitos poderes

Já fomos crianças… naquele tempo a imaginação era nossa fiel aliada. Hoje, se não nos lembramos mais, podemos reavivar nossas cores observando o mundo fantasioso das crianças.

É com a imaginação que as crianças encontram meios para ampliar o prazer das descobertas ou tornar digestivas as frustrações e outros momentos incômodos. Uma briga, um grito injusto, uma omissão, uma incompreensão pode ser digerida numa estória imaginada, nos jogos, nas brincadeiras, num desenho com giz na calçada ou numa boa aula de artes.

É claro, há situações que transcendem o apenas indigesto, mas mesmo as situações traumáticas podem ter a dor e suas marcas suavizadas quando entram em contato com o universo simbólico da criação.

Vamos pensar nas experiências que vivemos quando éramos crianças e lembrar quantas vezes a criatividade foi nossa salvadora porque fortaleceu nossos monstros, nossos heróis e eles nos defenderam.

Foi o medo da bruxa que não gostava da princesa ou a força de ser a bruxa. Foi o desejo de pintar tudo de azul ou respingar de vermelho o papel branco, de riscar com raiva o lápis cera sobre um pedaço de tábua ou transformar uma folha de jornal numa capa com muitos poderes.

Hoje, se conseguirmos trazer à vida o que restou de imaginação da nossa infância certamente teremos nas mãos um poderoso recurso para olhar a vida por muito mais ângulos e também com muito mais tolerância.

A grande missão é preservar o criativo, mesmo quando toda essa concretude contemporânea parece assolar o desenvolvimento das crianças.

Não sei se vocês ainda se lembram, mas foi por volta dos seis anos que os códigos formais de ensino passaram a ocupar quase inteiramente nossas vidas e assim é até hoje. Infelizmente nada mudou. A partir dessa idade, a imaginação parece perder definitivamente espaço e valor. Sucumbe entre números, provas, e principalmente entre os certos e errados dentro e fora da escola. No entanto a vida continua a trazer situações imprecisas, por vezes bem difíceis de se enquadrar entre: “isso ou aquilo”, “certo ou errado”.

Onde ficaram os recursos trazidos pela natural criatividade dos nossos primeiros anos e o que fazer quando ao invés da imprecisão criativa se tem apenas a missão de acertar?

Hoje, alguns de vocês viraram pais e mães e, se concordam com esse sistema, não reclamem:

De ansiedade nos seus filhos, afinal eles estão seguindo esse comando simplista que só lhes apresenta duas possibilidades: “isso ou aquilo”.
De desinteresse. Alguns podem até se mostrar competitivos, como espera deles essa sociedade do “venceu ou perdeu”, mas existem os que já desistiram da competição por se sentirem fora do páreo ou por não verem propósito em nada disso e não caiam na cilada de que por isso são menos competentes. Eles podem apenas estar desestimulados por essa cultura tão reduzidora em que estão inseridos.
De hiperatividade sem antes observar se ainda existe espaço e tempo na vida de seus filhos para brincarem e imaginarem por conta própria.
De pouco brilhantismo intelectual, porque educação sem arte faz a criança romper com a sua natural competência desde que começou a experimentar o mundo.

Educação sem arte, promove impessoalidade, entristece, torna estéril o conhecimento, empobrece o raciocínio, amplia a intolerância e faz do mundo um espaço sem prazer.

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